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Crocs: uma história de altos e baixos na moda

Quando o Crocs surgiu, há cerca de 20 anos, como um calçado feito de borracha confortável, de design arrojado e solado antiderrapante para velejadores, o objetivo era somente ser funcional e sem nenhum apelo estético. Tanto que, ao longo do tempo, colecionou haters, memes e uma legião de pessoas que o reprovaram e o colocaram no limbo fashion – o que fez com que o tamanco fosse eleito, em 2010, pela revista “Time” como uma das 50 piores invenções da história. As chacotas na internet reverberaram no blog “I Hate Crocs” (“eu odeio Crocs”, em tradução livre) e mais de 2,1 bilhões de menções na rede social TikTok.

Mas se tem algo que a moda tem feito, cada vez mais, é flertado com outro sentido: o que coloca o bizarro, o inusitado, o de gosto “duvidoso” ou mesmo o dito subjetivamente “feio” como objeto de desejo. A produtora de conteúdo Elisa Santiago acredita que, só de causar estranheza de quem o vê, já despertou o interesse em adquirir o calçado. “Só o fato dele ser um sapato ‘diferentão’ já me convenceu no momento da compra. Há alguns meses começamos a ver nas redes sociais e nas ruas um jeito mais interessante de usá-lo. Sinto que começamos a olhar para ele além do conforto e foi aí que a minha percepção mudou”, disse ela, que adquiriu, recentemente, um modelo preto e de plataforma.

Foi aos poucos também que Crocs virou item de luxo pelas mãos da grife Balenciaga, em 2020, e foi parar no red carpet do Grammy 2022, nos pés do cantor Justin Bieber. Antes disso, a marca fez colaborações poderosas com marcas como Gucci e com o designer Christopher Kane, em 2016, com um modelo arrematado com pedras preciosas, momentos que Elisa relembra. “Comecei a perceber que a Crocs estava se tornando um símbolo fashion quando vi as grifes de luxo criarem parcerias com a marca, depois disso fui notando o movimento nas redes sociais. Então acabei sendo influenciada por esses meios, sem dúvidas”, disse.

Novos tempos. A consultora de estilo Nina Lanza também não nega a popularidade do sapato em dias atuais. Um relatório da plataforma de buscas Lyst mostra que os Crocs ficaram, em 2020, entre os 10 itens mais procurados do mundo e tiveram um aumento de 48% nas vendas em comparação a 2019. Segundo a profissional, além da jogada brilhante da marca em arrematar boas parcerias e se aliar à alta-costura, a tendência batizada de dopamine dressing, que fala sobre o sentimento de se vestir de forma divertida e que teve destaque no pós-pandemia, tem tudo a ver com o Crocs. “Estamos mais livres para usar as coisas nesse momento. Este tamanco preza por um estilo mais despojado e arrisco dizer que quem usa pode comunicar com mais impacto, ousadia e originalidade, mas atrelado ao conforto”, acredita ela.

Ela ainda enumera que a busca na praticidade na hora de se vestir é o desejo de tudo que é aconchegante, despertado também após a pandemia. “A ideia do conforto veio nas roupas e porquê não viria com o sapato também, não é?” acredita.

A produtora de conteúdo Elisa Santiago concorda. “Além de ser muito confortável, é também um calçado que gera estranhamento, que choca, que tem presença no look. Eu acho que essa ousadia estética é um comportamento atual e ele ilustra isso perfeitamente”, disse. Uma prova é que, só neste ano, o modelo foi o item mais vendido na categoria de roupas, sapatos e joias da loja virtual Amazon.

Sentir-se bem e confortável em muitas jornadas em pé foi justamente o que motivou a compra de vários modelos de Crocs para a chef de cozinha Bruna Haddad. Mesmo adepta aos modelos básicos, a princípio, o calçado foi conquistando a profissional também pela estética. “Comprei até um modelo de pelinhos”, relembra. “Hoje eu já o acho lindo, confortável, prático e tudo que há de bom! Eu também uso direto pra sair de casa em contextos mais informais”, diz ela que, hoje, coleciona 4 modelos diferentes.

Customização. Outro ponto é que, atualmente, além de ter diversas opções de tons e até estampas, os Crocs trazem a possibilidade de acrescentar broches – batizados de jibbitz – variados, o que deixa a peça ainda mais lúdica. Bruna Haddad arremata o seu modelo com broches com temas de gastronomia – até um que é um croissant. Já Elisa também planeja a personalização. “Escolhi o sapato na cor preta pra testar melhor com meus looks, mas em breve já quero enché-lo de brochinhos, dar minha personalidade pra esse calçado polêmico”, disse ela.

O modelo ainda não pode ser sinônimo de ícone fashion dos tempos atuais, mas, se depender das aparições, pode ser que o seu uso nas ruas, no pós-pandemia, pode cravar.

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